Uma criação portuguesa, uma descoberta inglesa, um patrimônio da humanidade
O Vinho do Porto é o vinho fortificado mais emblemático do mundo, produzido exclusivamente na região do Douro, em Portugal, é conhecido pela sua riqueza de sabores e pela tradição secular que envolve sua produção. Mas o que o torna tão especial? Para entender completamente o Vinho do Porto, é preciso explorar sua história, os métodos de produção e suas diversas categorias.
A História
A história do Vinho do Porto remonta ao século XVII, quando os comerciantes ingleses, devido a conflitos com a França, passaram a importar vinhos portugueses. Para garantir que o vinho sobrevivesse à longa viagem até a Inglaterra, adicionava-se aguardente vínica durante a fermentação do vinho, interrompendo-a e mantendo os açúcares naturais da uva. Esse processo resultava em um vinho mais doce e encorpado, com alto teor alcoólico, característica marcante desse estilo de vinho.
Por volta de 1750, os ingleses começaram a alegar que os produtores portugueses, por ganância, estavam adulterando o vinho aumentando a quantidade em detrimento da qualidade, e ameaçaram um boicote concentrando suas compras em vinhos oriundos da França. Com esse embaraço, o monarca Dom José I ordenou ao seu chefe de governo, o conde Sebastião José de Carvalho e Melo (futuro Marquês de Pombal), que intervisse nesse mercado.
Assim, em 1756 foi criada a “Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro”, que passou a monopolizar a comercialização e equilibrar a produção, assegurando qualidade ao produto. Era criada a primeira Denominação de Origem para vinhos do mundo, estabelecendo uma demarcação das terras dos vinhedos que poderiam produzir e várias normas rígidas sobre o processo de produção e de envelhecimento.
A Produção
O processo de produção dos vinhos do Porto começa com a colheita das uvas nas encostas íngremes do rio Douro. Após a fermentação parcial, o vinho é fortificado com aguardente, aumentando seu teor alcoólico (entre 19% e 22% vol.) e estabilizando sua estrutura. Antigamente, era utilizado o método de extração do mosto das uvas com a “pisa a pé”, no qual as uvas eram literalmente exprimidas a partir de um grupo de trabalhadores que pisavam nas uvas em grandes tanques de granito, chamados “lagares”. Atualmente, existem pás mecânicas que produzem esse efeito da “pisa a pé” em muitas das vinícolas da região.
Posterior a isso, o envelhecimento dos vinhos ocorre em grandes barris de carvalho, onde o vinho desenvolve complexidade e profundidade. Esse envelhecimento pode durar desde alguns anos até várias décadas, e é realizado à 70km rio abaixo na cidade portuária de Vila Nova de Gaia, as margens do rio Douro e de frente para a cidade do Porto propriamente, de onde deriva o seu famoso nome.
As videiras, lá na região do Alto Douro (dividida em 3 sub-regiões: Baixo Corgo, Alto Corgo e Douro Superior), são plantadas em encostas muito íngremes, em “socalcos” (espécie de terraço com muros de contenção para dar suporte ao plantio), e em “patamares” (um novo tipo de terraço mais largo), tornando um trabalho desafiador e dispendioso, e bastante caro. O solo da região é basicamente formado por rochas de xisto e calcário, perfuradas a mão com picaretas, e o clima da região é continental quente, com pouca precipitação pluviométrica.
A grande maioria dos vinhos do Porto são elaborados a partir de um complexo blend (mistura) de um grande número de castas (como são chamadas as variedades de uvas), que possuem alta concentração de taninos e de aromas frutados e florais. As principais castas são: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinto Cão.
Os Estilos de Porto
Existem vinhos do Porto tintos, brancos e rosés. Os tintos (maior produção) são distribuídos em dois grandes estilos: Ruby e Tawny, cada um com características distintas. O estilo Ruby, é jovem, frutado e intenso, envelhecido por período mais curto, apresenta aromas de frutas vermelhas e chocolate; enquanto o Tawny passa por longo envelhecimento oxidativo em pipas de madeira, adquirindo aromas de nozes e frutas vermelhas secas, uva-passa, tâmaras, caramelo e cacau. Os Porto brancos são sempre jovens, com pouco envelhecimento, apresentando aromas de frutas amarelas secas, como pêssego e maça, pimenta-branca e algo cítrico como tangerina. Da mesma forma os Porto rosés, que são frescos e de aromas que remetem a morango, framboesa e canela.
Além disso, existem outras categorizações, como os vinhos Reserva, com melhor qualidade e tempo mínimo de envelhecimento obrigatório por lei; os LBV, são vinhos de uma só safra, envelhecidos de 4 a 6 anos; os Tawny com Indicação de Idade, podem ser rotulados com 10, 20, 30 ou 40 anos, que indica a média da idade dos vinhos contidos no blend; e por fim, os Porto Vintage, envelhecidos em grandes recipientes de madeira e engarrafados até o terceiro ano após a vindima. É o mais prestigiado, elaborado a partir das melhores uvas de uma única safra e envelhecendo por décadas em garrafa. O órgão responsável pela regulamentação, pela avaliação dos vinhos e emissão dessas certificações é o IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.
O Vinho do Porto também varia em doçura, podendo ser seco, meio-seco ou doce. Essa versatilidade faz com que ele seja apreciado tanto como aperitivo quanto como digestivo, acompanhando queijos, chocolates, sobremesas diversas ou simplesmente sendo degustado sozinho ou em drinks, como o famoso Portônica. (clique e veja a receita)
Concluindo, o Vinho do Porto é muito mais do que uma bebida; é uma verdadeira experiência sensorial e cultural. Seu sabor robusto, história fascinante e versatilidade gastronômica fazem dele um vinho único no mundo.